Alguns trabalhos nascem urgentes. Em tempos em que a sociedade clama por espaços públicos de convivência, a cidade, como ponto de partida e como cenário de experiências estéticas, parece reforçar um pedido de ajuda. Fragmentos de Alan Oju, engendra um convite à reconciliação entre o indivíduo e o espaço urbano.
Ao vagar sem rumo, Alan assume a postura de um viajante. Cultiva o risco, o olhar atento e disponível à paisagem e às pessoas, colhe vestígios, deixa um pouco de si. Se para Guy Debord a cidade como conhecemos nada mais é do que um cenário para a realização do espetáculo, endossado com os processos de gentrificação, a mirada do artista é a tentativa de um resgate do que, talvez, nunca tenhamos tido: uma forma de vida em sociedade que ocupe os espaços urbanos coletiva e democraticamente.
Nas errâncias que faz pela grande São Paulo, método que adota para fugir da dinâmica de tempo e espaço socialmente impostos, o artista se deixa afetar pelo entorno, escolhe viver e contemplar. Seguir por caminhos que não o levam para a casa, nem para o trabalho, nem para o clube, nem para o happy hour, distanciando-o do automatismo da rotina. Perder-se acaba por se tornar uma estratégia de aproximação em relação à dinâmica da cidade, revelando outras camadas que a constroem e que nos é apresentada nos trabalhos desta exposição.
Rotas de encontros fortuitos formam uma cartografia marcada pelo fluxo de uma itinerância aleatória. Objetos de descarte colhidos das ruas são resignificados com a inserção de imagens fotográficas, que contém os personagens e as cenas destes descaminhos. Lixo, que o gesto de apropriação do artista faz sobreviver, em última instância, nas paredes e vitrines desta sala. A versão do artista do Vitruviano devolve o homem contemporâneo ao espaço público, ao mesmo tempo em que alerta para a necessidade da arquitetura e do urbanismo voltarem a agir a serviço de quem ocupa a cidade.
Se os objetos e fotografias aqui presentes carecem de permanência, eles também fazem a vez de síntese visual do conceito, da metodologia e de sua autoria, indissolúveis da obra. O gesto de Alan Oju, por fim, busca no efêmero meio para tensionar e refletir o nosso tempo.
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Coletivo Ágata
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