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Foto do escritorAlan Oju

Janelas de Papel, por Alan Oju

“Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim. Todas as tardes os nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dápara outro muro, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais.” Desde que li pela primeira vez a poesia de Octávio Paz (1914-1998),suas palavras nunca pararam de ecoar em mim, uma vontade enorme invadiu-me de querer ver além, ver jardins, horizontes, terra, verde, verdades ao invés do cinza da vida cotidiana, apressada, preocupada, onde quase sempre me encontro imerso. A vontade de querer sair do enclausure urbano me fez imaginar o que há por trás dos obstáculos ao meu redor, a vontade de querer ver me impulsionou a transpor os muros das cidades, onde do outro lado quase sempre o ar parece ser mais fresco. Ver, respirar, sentir e estar, oxigena meus desejos e alimenta minha ânsia de ver os muros das cidades abaixo para não mais vê-los e poder transitar livremente esquecendo o que é de quem é. E foi com este sentimento que passei a fotografar o que estava oculto e a transportar esta imagem para a face pública dos muros através de janelas de papel, numa atitude simbólica de querer coletivizar os horizontes interrompidos pelo homem e quiçá sugerir reflexões e estranhamentos para quem ali passar. Em ação, as vezes me sinto uma criança curiosa brincando, em outros momentos penso em ser um pixador sem spray que subverte a propriedade e grita em cores. Se a rua é pública, nosso campo de visão já não é mais. Parafraseando Proudhon: “A propriedade é um roubo”, e isto está tão evidente que já faz parte da paisagem de nossos dias.


Texto publicado no BLOG da Residência em Fotografia LABMIS.

Para maiores informações: 


Horizonte Interrompido n.01, 2013


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